Nas vésperas do terceiro milénio, a causa da religião está longe de ser regulada. É evidente que as religiões resistiram, de maneira notável, aos anúncios de desaparecimento que tinham inspirado teorias do século XIX e justificado muitas perseguições durante o século XX. Porém, as tentações, por todo o lado, do fundamentalismo, assim como a expansão do fenómeno sectário, são sintomas de doença mais do que sinais de saúde. A tendência é para as religiosidades vagas, sem instituições, profundamente individualistas, centradas na realização de si, na cura do mal-estar psíquico ou físico. Pelo seu lado, neste fim de século, o cristianismo encontra-se, muitas vezes, desacreditado no universo ocidental. Na Igreja católica em particular, as promessas de reforma intelectual e espiritual do Concílio Vaticano II, há trinta anos, apenas foram parcialmente cumpridas. De onde pode vir a esperança? Para Paul Valadier, devem considerar-se as coisas de maneira mais distanciada para se entrever um futuro para a religião, em particular para a religião cristã. Por um lado, tudo leva a pensar que se inaugura uma era intelectual menos sistematicamente hostil à crença religiosa. Uma "vingança de Deus", tal como um abatimento da razão no niilismo, são improváveis; pelo contrário, são possíveis pontes e sinergias inéditas entre fé e razão contra a desumanidade que espreita. Por outro lado, um cristianismo que conjugasse, com rigor, culto a Deus e serviço de outrem encontraria a sua verdadeira identidade e daria uma contribuição eminente à Humanidade.