Com um rigor metodológico exemplar, mesmo partindo da observação de uma paisagem pouco nítida, composta por diferentes interpretações, teorias e opiniões registradas sobre o assunto na literatura acadêmica da área a partir dos anos 1990 até agora, Paranhos conseguiu “limpar o panorama” proporcionando uma leitura clara da questão. Nem sempre é simples alcançar a síntese em situações pouco definidas como essa, pelo contrário... No presente caso, o autor logrou a proeza de dividir as críticas em apenas duas grandes vertentes. A primeira, vinda de pesquisadores dos países industrializados ou ricos (centrais...) que direcionaram o olhar diretamente aos fundamentos filosóficos relacionados com o imbróglio. E a outra, originada nos países periféricos (para utilizar a linguagem da Bioética de Intervenção) que centrou o foco nas aplicações práticas sem perder de vista os problemas filosóficos detectados nas ideias de B&C. Para o autor: “Aos últimos incomoda mais a pretensa assepsia e neutralidade do Principialismo, enquanto aos primeiros, a simplicidade, interpretada como falta de consistência”. É importante deixar claro que ambas as perspectivas críticas acima são pertinentes e relevantes e que nenhuma delas anula ou obscurece a outra, pois, pelo contrário, são complementares. E foi exatamente esse o desafio que Flávio enfrentou na construção da sua originalíssima tese, ou seja, buscar o aprofundamento do tema seja pelo viés do percurso teórico-filosófico, seja pelo caminho da análise da possibilidade da teoria de moralidade comum – na sua interpretação principialista defendida por B&C – pode ser considerada como uma linha de pensamento adequada e pertinente ao enfrentamento dos problemas detectados nos países pobres em consequência de inequidades sociopolíticas e econômicas, traduzidas em palavras diretas por pobreza e exclusão social. Professor Volnei Garrafa, da UnB (trecho do prefácio)