O livro Cuidado em Paralaxe nasce, sobretudo, das inquietações do autor sobre as práticas de saúde e as tantas formas de significar, enquadrar e cuidar daquilo que chamamos de sofrimento (e não só de doenças). Com tecitura que supera os limites dos campos teóricos da própria saúde, chama para diálogo — com potência e fôlego — autores no campo da Psicologia Social, Sociologia, Linguagem, Filosofia Política e mesmo da Geografia Humana para reflexões críticas a respeito das formas (ordenadas por linguagens) pelas quais o cuidado em saúde vem atualizando colonizações (e por isso mesmo, repetindo mecanismos de dominação e opressão) no viver diante dos sofrimentos decorrentes da própria vida. Baseado em um mergulho do autor nos serviços públicos de atenção primária e de saúde mental, o estudo contou, entre outras formas trianguladas de construir o material qualitativo pesquisado, com entrevistas de narrativas de história de vida e de cuidado tanto de profissionais quanto dos ditos “pacientes” (ou usuários dos serviços), em uma organização metodológica ímpar dentre as pesquisas dessa natureza no campo da saúde e mesmo nos estudos em psicologia — estabelecendo o método que foi denominado neste livro por “práxis-reconstrutiva”. Olhar em Paralaxe, como na releitura do filósofo esloveno Slavoj Žižek realizada neste livro, ajudou a compreender o intrincado mecanismo de significação no cuidado em (serviços e políticas de) saúde dos corpos anátomo-fisiológicos como corpos sociais, expurgando determinadas dimensões e concepções do “político” da ação em saúde.