“Admito que na América vi mais que a América; procurei nela uma imagem da democracia em si, de suas tendências, de seu caráter, de seus preconceitos, de suas paixões; quis conhecê-la, nem que fosse apenas para saber o que devemos esperar ou temer dela. Tentei mostrar a direção que a democracia, entregue na América às suas inclinações e abandonada quase que sem restrições aos seus instintos, dava naturalmente às leis, a direção que ela imprimia ao governo e, em geral, o poder que ela obtinha sobre os negócios. Meu objetivo era pintar, numa segunda parte, a influência que exercem na América a igualdade de condições e o governo da democracia sobre a sociedade civil, os hábitos, as ideias e os costumes. Este livro não se propõe a seguir precisamente ninguém; ao escrevê-lo não pretendi servir nem combater nenhum partido. Procurei ver, não de outra forma, porém mais longe que os partidos; enquanto estes se ocupam do amanhã, procurei compreender o amanhã”. SOBRE O AUTOR: Alexis-Charles-Henri Clérel de Tocqueville (1805–1859) foi um historiador e analista político francês, filho de uma família nobre, favorecida pelo reinado dos Bourbon e que sobrevivera à Revolução Francesa, mas fora exilada junto com o Rei Charles x depois da Revolução de Julho de 1830; Tocqueville, então com 25 anos, decidiu ficar na França. Pouco tempo depois, a mando do governo, partiu junto de Gustave de Beaumont para os Estados Unidos, incumbido da tarefa de avaliar o sistema prisional da jovem nação americana. Escreveu não só este relatório, como também uma análise político-sociológica de toda aquela nação e de seu povo, que serve até hoje como modelo para as ciências sociais: De la Démocratie en Amérique, publicada em dois volumes (o primeiro, em 1835, e o segundo, em 1840). O livro rendeu-lhe fama e Tocqueville foi um participante ativo e influente da política francesa até 1849, quando se aposentou depois de ter exercido funções como as de deputado e presidente do conselho geral do departamento da Mancha. Morreu em Cannes, de complicações respiratórias.