O livro Da escrita à oralidade na encantaria do Terreiro da Turquia desvenda os caminhos traçados entre o livro História do Imperador Carlos Magno e dos doze pares de França e a encantaria do Terreiro da Turquia. Fundado no século XIX, aquele espaço consagrado ao culto do Tambor de Mina em São Luís do Maranhão tinha como principal representante espiritual uma das personagens da narrativa que nos chegou pelas mãos dos colonizadores. Transformado em encantado, por conta das tradições culturais regionais maranhenses, o rei turco, como era chamado, saiu das páginas do livro para apresentar-se como entidade nos cultos e festividades realizados pela casa. A autora, por meio de visitas à capital maranhense e de entrevistas a pesquisadores e sacerdotes ligados ao terreiro, conseguiu encontrar as respostas para sua principal indagação, a de como uma das personagens mais importantes do livro sobre Carlos Magno e seus pares de França transformou-se em um encantado tão respeitado quando mencionado entre os que mantêm a tradição do Tambor de Mina no Maranhão. O livro começa abordando questões literárias sobre o surgimento e a divulgação dos romances de cavalaria, sua chegada ao Brasil e sua influência em nossas tradições populares. Trata da importância do livro sobre Carlos Magno e os pares de França em nossa cultura, até ingressar no universo da encantaria maranhense, na religião do Tambor de Mina, revelando, gradativamente, como esse livro fez parte do imaginário relativo ao Terreiro da Turquia. Para tanto, a autora faz uma viagem a aspectos como voz, ritmo e movimento no terreiro, o que nos instiga a entender como se produziram as conexões entre uma obra literária e uma religião de matriz africana.