O objeto desta obra de Elisa Maria Verona são os impactos das mudanças sociais sobre a condição feminina durante o Império de D. Pedro II, provocadas pela chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro no início do século 19. A partir desse período, a cidade avança num processo intenso de urbanização, que inclui ruas calçadas, iluminação a gás, bondes, teatros, bailes, passeios públicos e repercute também nos hábitos e costumes do carioca, que passa a se familiarizar com os padrões europeus. Nesse cenário, nota a autora, alargou-se a paisagem social de “muita iaiá brasileira” e papéis mais tradicionais atribuídos à mulher foram recolocados. Isso porque a mulher tinha – e esta é a hipótese central da pesquisa – um papel a desempenhar no novo ambiente social que surgia. A mulher carioca abastada, conta Verona, abandonou a reclusão, passou a vestir-se e portar-se com mais elegância e procurou apurar “as prendas de espírito”. Esse comportamento veio a reboque da disposição de uma elite formada nas universidades de instruir seus moradores, algo que considerava fundamental para o processo civilizatório da nação. A autora examina o que se esperava da mulher nessa nova configuração social e aborda, ainda, o modo como a medicina da época forjou o espaço de legitimadora da verdade acerca da saúde dos indivíduos, analisando também como os textos médicos descreviam a mulher. A obra lança um olhar abrangente sobre as transformações então em curso sob diversos aspectos, como a relação entre o projeto de instrução da população carioca e as ações que objetivavam a construção do Estado imperial brasileiro, e a literatura oitocentista, outro fator importante para a construção de uma nação “mais civilizada”.