A Ordem dos Templários foi fundada na Palestina, entre 1118 e 1119, após a vitória cristã na Primeira Grande Cruzada, com o objetivo de proteger os palmeiros que visitavam os Lugares Santos. Os poucos monges-guerreiros do núcleo inicial rapidamente ganharam fama e, sob a tutela intelectual de Bernardo de Claraval, o Templo espalhou-se por toda Europa. Em Portugal, liderados pelo mestre Gualdim Pais, que se tornaria uma figura lendária, os cavaleiros templários tiveram impor-tante papel nas Guerras de Reconquista. Com o passar dos séculos, a Ordem acumulou imensa quantidade de terras e propriedades urbanas, tornando-se rica e poderosa. Ao mesmo tempo, desenvolveu-se no imaginário medieval toda uma Tradição Épica ligada aos feitos de armas dos freires do Templo. Em meados do século XIV, por motivos políticos e econômicos, a Ordem se indispôs com o rei francês, Filipe, o Belo, e o papa Clemente V. O resultado foi um processo que levou a sua supressão. O rei português, Dom Dinis, optou por construir uma nova confraria, de caráter eminentemente lusitano, a partir das estruturas deixadas pelo Templo. Deste modo, a Ordem de Cristo herdou, além dos bens, também a Tradição Épica templária, que, apesar de anacrônica, era politicamente importante. Mas a Europa necessitava de um novo modelo cavaleiresco, que foi proposto pelo filósofo Raimundo Lúlio. A nova cavalaria, de modos mais sofisticados que sua antecessora, via-se como continuadora de sua Tradição Épica, formou a vanguarda das Grandes Navegações. A demanda, o signo da busca, substituiu o sentimento de cruzada. A tradução literária desses valores, acrescidos de forte influência do pensamento milenarista joaquimita, pode ser encontrada na versão portuguesa para a novela de gesta francesa A Demanda do Santo Graal. À Exceção de seu protagonista, Galaaz, um templário à moda antiga, toda a corte da Távola Redonda identifica-se com o modelo cavaleiresco proposto pela Arte luliana.