Em seu romance de estréia Júlia Mainardi consegue tecer com maestria inesquecíveis retratos humanos de gente de carne, osso e sangue, vivendo "entre os riscos em que transcorre o breve tempo de vida", como diz Lucrécio em De rerum natura, na epígrafe de abertura do livro. A apolínea Silvia, é um belíssimo retrato de mulher em luta pela sua identidade e independência. Cheia de anseios e emoções, mais aliando tudo a um profundo sentido de ética. Ana , a frágil, contraditória e talentosa artista, dependente e insegura, mas mesmo assim capaz de crescer, achar seu lugar no mundo e não mais como simples, espectadora. Camila, bela, egoísta e complexa, luta péla sua sexualidade diferente e pelo sucesso profissional a qualquer preço. Carreiras, casamentos, filhos, amizades, amantes, tudo é dissecado com sensibilidade, poesia e inteligência. Os homens de Júlia são figuras interessantes - grandes "bruxos" -, fortes e frágeis ao mesmo tempo, mas sempre perplexo diante dos novos papéis que lhes são exigidos. Júlia Mainardi consegue, o que é raro, tecer a teia da vida desse grupo de alta classe média, freqüentadora do "circuito Elizabeth Arden", com enorme charme e espirito critico, mas sem perder a ternura pela vida e pelos seres nela envolvidos.