Da preguiça como método de trabalho é o livro em que Mario Quintana coloca de maneira mais clara e assumida seus princípios poéticos e de vida. Ao longo de aforismos, tiradas humorísticas, fábulas e narrativas marcadas por um alegorismo cáustico, este volume publicado originalmente em 1987 reafirma o vitalismo anti-intelectual que definia o perfil do poeta, como assinalou Carlos Jorge Appel. A preguiça produtiva é na verdade o método de trabalho da poesia, escreve Quintana. Ela cria o tempo lento – observador, reflexivo, imaginativo – que possibilita o nascimento (ou renascimento) tanto do poema quanto da conversa inteligente entre amigos. O elogio do poeta à preguiça combina-se à rejeição de qualquer discurso grandiloquente. Trata-se de um espaço-tempo antieconômico e antiutilitário, que permite o abalo no bom senso, abrindo novos horizontes de percepção, dentro do devaneio, da insônia e do sonho. Buscar uma ética da simplicidade é tão forte para o poeta que ele chega a desejar um mundo em que o espaço poético fosse povoado apenas por autores anônimos. No entanto, este é um livro em que a assinatura singular de Quintana apresenta-se em potência máxima, expondo suas múltiplas ramificações, assim como desvendando suas próprias condições concretas de existência e sua rede de relações intelectuais e afetivas. O gaúcho pratica como poucos a arte da conversa por escrito: atravessada de humor, pontuada por pequenas histórias e fábulas, cheia de conceitos preciosos sobre o ser do poético. O poeta proseia. Sem ostentar erudição, mas derramando sedução. E também revelando um pouco de seus encontros cotidianos, passados e presentes, sua existência de rijo cidadão porto-alegrense para além de seus oitenta e alguns anos.