Além de ser o ano que marcou o 25º aniversário do primeiro transplante cardíaco pediátrico no Brasil, 2017 apresentou uma efeméride fundamental para essa área da medicina: 50 anos do primeiro transplante de coração realizado no mundo, em 3 de dezembro de 1967, por Christiaan Barnard, na Cidade do Cabo, África do Sul. Em seis horas de operação, Louis Washkansky, de 55 anos, recebeu o coração de Denise Darvall, uma garota de 15 anos vitimada por um acidente de trânsito. Washkansky morreu 18 dias após a cirurgia. O segundo transplante aconteceu apenas três dias depois, nos Estados Unidos, pelas mãos do dr. Adrian Kantrowitz. A mínima diferença de tempo entre os procedimentos deixa ver que havia uma corrida pelo pioneirismo. No início da década de 1970, a letalidade dos processos de rejeição levou ao congelamento dos transplantes cardíacos. Essa realidade só mudaria na década de 1980, com o advento da ciclosporina, droga imunossupressora. Em 1984, o dr. Leonard Bailey, da cidade de Loma Linda, nos Estados Unidos, esteve no epicentro de uma polêmica. Com o consentimento dos pais, ele conduziu o transplante de Stephanie Fae Beauclair, de 12 dias de vida - a menina recebeu o coração de um filhote de babuíno, em um xenotransplante que se tornou mundialmente conhecido e acendeu o debate sobre a validade da cirurgia interespécies e os limites éticos desse tipo de operação. "Baby Fae" surpreendeu com sua boa evolução, mas morreu 20 dias depois. Após passar por um período turbulento, Bailey fez o bem-sucedido transplante de Eddie Anguilano: aos 4 dias de vida, o menino recebeu o coração de outro bebê. Nascido em 1985, Anguilano, que ficou conhecido como "Baby Moses", vive em Los Angeles, trabalha em um hotel, é casado e tem dois filhos. Ao aceitar jovens médicos para estudos, Loma Linda ofereceu as bases para a implantação do Programa de Transplantes Cardíacos Pediátricos no Incor. Mas a realidade brasileira mostrou que adaptações e novas medidas seriam necessárias.