“Meninas vestem rosa”. “Meninos vestem azul”. “Mulheres cuidam da casa e dos filhos”. “Homens proveem o sustento”. “Meninas são passionais”. “Meninos não choram”. De onde surgem essas ideias que separam homens e mulheres e que dão possibilidades a uns (aos primeiros) e inferiorizam o outro? Embora muitos creiam na divisão natural dos papéis sexuais de cada gênero, acreditamos, de forma contrária, em uma naturalização arbitrária, imposta e reproduzida incessantemente pelas instituições que regem a sociedade. Nesta obra, mostramos como se deu a construção da inferioridade feminina pela Igreja e pelo discurso religioso ao longo do tempo. Ao contrário do que se pode pensar, nem sempre as mulheres ocuparam um lugar subalterno. É preciso lembrar que, no nascer da religião, Deus era uma mulher. A Deusa-Mãe, assim como as outras mulheres e fêmeas, guardava em si o mistério da reprodução. A chegada de invasores e a imposição de um Deus-homem (todo poderoso) dizimou a Grande Deusa e provocou drásticas mudanças na ordem de gêneros até então vigente. A construção de mitos e símbolos serviu para corroborar a transição, e eles ecoam até hoje nas mais diversas instituições e no senso comum popular. Para este estudo introdutório, selecionamos alguns eventos que perpassam a relação mulher-religião desde a Pré-história até a contemporaneidade. Destacamos, então: o culto à Deusa; a representação das mulheres bíblicas; a associação das mulheres a Eva, Maria e Maria Madalena, e sua consequente submissão aos homens; a Caça às Bruxas; e o confinamento ao lar, de onde algumas tentam sair desde então. É tomando conhecimento sobre a construção da inferioridade feminina que será possível romper o status quo. Na época atual, escrever e publicar uma obra contrária à onda conservadora que (re)nasce é mais que uma atitude de coragem, é também um ato político.