“Um bom livro é o que dá margem a várias leituras: se espraia num enredo horizontal para quem quer apenas (apenas?) uma boa aventura para deleite e/ou passar do tempo; mas permite também um mergulho vertical em águas turvas, agitadas, temerárias.Desde a primeira frase deste De onde estou já fui embora, do paulista-cearense Alexandre Landim, já somos jogados, juntos com o personagem-narrador, dentro de um avião com todos os percalços e incertezas de um voo inesperado: não só lançados, talvez “sacudidos” dissesse melhor, do presente para o passado na vida desse adolescente tardio que vai nos apresentando meio à força e sem jeito (tal esses bate-papos com estranhos) aos seus companheiros de república estudantil, à sua mãe castradora e invasiva, e – pasmem! – até ao novo-rico companheiro dela.Os flashbacks te jogam de volta ao agora, que na verdade é um presente confuso, mistura de improvisos do acaso com pitadas de alucinações. Vejam que o personagem nos diz que foi diagnosticado com uma doença degenerativa, e (talvez) como fuga resolva fazer essa improvável e surreal viagem à procura de uma amiga-namorada da qual só ele recorda… E nada nos garante que sejam (doença e namorada) reais.Noutras vezes, entre peripécias com a nova amiga e os novíssimos companheiros de viagem (alguns hilários personagens secundários que se grudam nele tal carrapatos), somos empurrados num inquieto mergulho vertical vida adentro, mundo afora, nessa aventura sem objetivos nem causas, como se a confusa busca (quase desesperada apesar de aparentemente desinteressada) por uma motivação pra viver (sobreviver diria melhor) não passasse de um rito de passagem.Mas até aí caímos na incerteza de que o episódio da cachoeira (que funciona como uma luva para a narração) seja purificador, elucidativo ou, ao contrário, motivador de nova desordem na vida do personagem.Um bom livro, pois, é aquele que nos deixa com mais perguntas, incertezas…”Pedro Salgueiro