DE UM FRAGMENTO AO OUTRO

A estratégia do autor, ao fazer do aforismo uma forma singular do pensamento da atualidade, é articular o pensamento como uma dicção que ressalta, não as produções discursivas, conceituais, mas a abertura do sentido por uma enunciação feita de timbres e tonalidade, de modo a remover do pensamento 'toda a cultura do sujeito filosófico'. Intempestivo, reatando a linguagem mais poética que conceitual dos seus inícios, depois de considerar encerrada a sua fase teórica, que o tornou um dos mestres do pensamento contemporâneo, afirma que 'algo de inaugural que pode ser bastante forte' ainda é possível, que o 'essencial está no instante da aparição das coisas'. O autor acentua, na sua tenaz crítica, que 'não existe uma linguagem que esteja à altura de traduzir o estado atual das coisas', pois a linguagem que se tem, que é a linguagem do sujeito, 'não corresponde a situações completamente indeterminadas, aleatórias, flutuantes'. O pensamento fragmentário é da ordem do jogo, cujas regras têm que ser fixadas para cada acontecimento.