Francisco Suárez figura como o maior filósofo político católico da Contra-Reforma. Teólogo, jurista, professor da universidade de Coimbra, o granadino pertenceu à última geração de intelectuais da Escola de Salamanca. De formação jesuíta, foi influente em seu tempo por diversas razões, podendo ser considerado um autêntico restaurador da filosofia política de tradição católica.No princípio do século XVII, Suárez é convidado pelo Papa Paulo V a defender a autonomia de consciência dos católicos contra as pretensões absolutistas do rei da Inglaterra, James I. Em estilo apologético, Suárez confecciona a Defesa da Fé Católica, onde expõe a tese, já assentada na tradição política da Igreja, do livre consentimento da comunidade acerca da legitimidade do rei, em contraste com a tese de James I, para quem o rei era soberano e absoluto, posto diretamente por Deus, sem a necessidade de responder por seus atos à sociedade. O filósofo jesuíta disserta sobre o fundamento social da autoridade, que recebe seu poder indiretamente de Deus, por referência ao que ensina São Paulo na Carta aos Romanos, cap. 13, e diretamente do povo, de quem recebe parcialmente a legitimidade para exercer o governo civil para a utilidade pública.A Defesa da Fé Católica ganhou apoio incondicional do Papa Paulo V e serviu de instrumento apologético formidável na luta contra o absolutismo dominante, Mais do que isso: trata-se de uma autêntica obra de filosofia política, que ainda hoje pode nos ajudar a compreender quais os verdadeiros limites do poder do Estado sobre a sociedade.