Deformação, de Vera Albers, desenvolve-se sobre um plano de análise introspectiva, de contínua obcecante autoconfissão - e também autocrítica - o que remete logo a certos aspectos característicos da produção de Bergman, particularmente de sua última fase. Trata-se de um discurso aparentemente fragmentado, em ritmo como que soluçantes, cujas senhas dão a impressão de um divagar contínuo. Um pouco como o pensamento deixado livre, tão típico do devaneio, em que as imagens se superpõem, se aglomeram e desnudam o lado mais recôndito da sensibilidade. O estilo incorpora os módulos mais recentes: uma boa dose de experimentalismo, certas experiências futuristas e principalmente elementos ideogramáticos de poéticas ligadas às línguas orientais. É claro que estas variações estilísticas, em seu alternar-se, só adquirem sentido na medida em que se adequam a um certo conteúdo, ou seja, a estrutura vagante deve tornar-se portante (e vice-versa). No caso de Vera Albers fica claro que as duas se interpenetram. A estrutura vagante (uma experiência humana) liga-se ao fato objetivo, de caráter ,marcadamente cultural, à estrutura portante, com frequentes referências a autores, a máximas, a conclusões de cunho filosófico e social. Mas o continuam do relato está nesse viés amargo de sabor autobiográfico no qual prevalecem dois elementos de fundo: o senso de culpa e a tentativa de remediar a isto, não apenas com uma escavação autocrítica, mas sobretudo com uma insistência formal. O que resulta é um desenho delicado, onde a fragmentação do período serve de suporte importante para a recuperação de uma musicalidade que, obviamente, consente estabelecer uma base funcional para conteúdo, tecido de experiências.