"Onde não puderes amar, não te demores." A frase que a internet erroneamente atribuiu à Frida Kahlo talvez sirva como conselho para a geração de inamoráveis da qual Luciana Borges trata neste corajoso livro de contos. A partir das próprias agruras, ela nos conduz a uma espécie de radiografia de um fenômeno só cabível em tempos de narcisismo absurdo e apagamento total do outro, o do desamor – ou seria ainda melhor se falarmos em antiamor? E nos faz perguntar: o que aconteceu com a nossa capacidade de criar vínculos e nos colocar vulneráveis? O que querem de fato os amantes na era do capitalismo tardio, na qual as possibilidades são infinitas, e da internet nonstop, quando toda hora é hora? É inevitável não se identificar com a coleção de matches narrada por Luciana. Suas histórias são capazes de ressoar no leitor como se fossem memória coletiva. Para as mulheres, isso pode acontecer de forma ainda mais potente, tornando a experiência da leitura ainda mais sensível. O motivo? Luciana expõe não apenas as ironias de encontros fadados aos desencontros, mas os arranhões que eles são capazes de causar em nossas crenças. "Depois de tudo, queime" é uma obra necessária sobre o agora e para o agora.
– Natacha Cortêz, jornalista e editora de sociedade e comportamento da Marie Claire