A estreia como contista de Wander Antunes nos dá a certeza de que finalmente algo muito interessante está surgindo na literatura brasileira nesse começo de século. E o que se lê em suas páginas é algo de causar múltiplas sensações no leitor. Primeiro, de perturbação e de taquicardia, pela abordagem temática escolhida por ele. Numa sequência interminável, quase descontrolada, de extrema violência, ele passeia com impressionante desenvoltura narrativa entre a vida e a morte em mais de duas dezenas de contos. Em todas as histórias, alguém vai morrer e alguém vai viver. Mas isso pouco importa. Na melhor tradição entre o realismo fantástico latino-americano, o cordel secular nordestino e as baladas de Zé Ramalho, ler este livro é tão impactante quanto atravessar o sertão nordestino sem uma gota de água na moringa. Antunes causa espanto por escrever tantas histórias sobre o mesmo tema, o encontro entre matadores e suas vítimas, com incrível imaginação e variantes que jamais se repetem. E é nesse aspecto que se encontra um de seus talentos. A brutalidade extremada de suas narrativas curtas combina, de modo perfeito, com sua capacidade de exercitar a arte da escrita e compor um universo ficcional pós-apocalíptico, porém por demais presente no nosso cotidiano. Tanto que chega a causar náusea. Em sua galeria de anti-heróis ignorados por Deus, Wander Antunes e desafia a nossa realidade como se tudo não passasse de uma invenção do diabo e que todos nós vivemos no inferno, do qual não escaparemos jamais.