Ao enunciar Desambiguar Lacan de Freud, nosso desejo é trabalhar numa direção de desfazer a suposta equivalência entre as construções teóricas desses autores. Partimos da premissa de que não é possível considerar homólogas as concepções, para citar apenas um exemplo, de inconsciente nas teorias de Freud e de Lacan. Desambiguar, portanto, é a função de estabelecer e de fazer trabalhar diferenças equivocadamente tomadas como tendo um mesmo significado "em outros termos". Sem dúvidas, a devida distinção entre os fundamentos de uma teoria e da outra implica uma infinidade de conceitos a serem desambiguados. Isso não quer dizer que não existam ambiguidades no discurso de um e de outro autor, mas não se trata do mesmo discurso. É essa ambuiguidade, notória e peculiar do campo psicanalítico, que colocamos em questão. Não obstante, estamos cientes de alguns dos contrapontos dessa proposta, os quais são bem-vindos, visto que buscamos um efetivo debate. Desambiguar, se for tomado como significante, não pode jogar sozinho, ou seja, não pode representar-se a si mesmo. Nas páginas que se seguem, portanto, cada autor irá fazê-lo jogar diferentemente, conforme suas argumentações ou contrapontos ao termo que dá título ao presente livro; porém, não há nada de surpreendente nisso. No entanto, é preciso que os organizadores deste debate registrem, aqui, como haviam pensado esse projeto, já que seu destino, para além daquilo que os autores escreveram, caberá aos seus leitores.