A pergunta da autora já no título do livro, remete a uma significação de tratamento distinto do sentido convencional das práticas medicas e psicoterápicas, por exemplo, que visam as pessoas como objeto de suas atividades, com o fito de alcançar um estado de plenitude do ser: seu bem-estar e sua felicidade.
Com a descoberta freudiana do inconsciente, a autora, lança luz sobre a práxis psicanalítica que tem por princípio o compromisso com a verdade, distintamente dos métodos terapêuticos pacificadores de conflitos e promessas curas paliativas. A clínica psicanalítica é uma tarefa que se desdobra no trabalho de deciframento do inconsciente, cuja atividade enigmática nos envolve e nos cativa à revelia do domínio de nossas próprias vontades e discernimentos, fazendo-nos sentir estranhos a nós mesmos.
Quanto a questão do desejo, este é visto como um impulso que orienta o sujeito do inconsciente a uma incessante busca de si mesmo, pois falta-lhe a essência. Esse desejo não transcorre livre, existem “códigos de barras” previamente estabelecidos que predeterminam um destino ao sujeito que só vai poder se constituir e consistir enquanto um ser de linguagem, um ser-de-fala. Nessa ótica, a finalidade da clínica psicanalítica visa a libertação do sujeito amordaçado em uma fala aprisionada nas e pelas torturantes paixões do ser, introduzindo-o na linguagem do seu desejo, pois o de que se trata nas paixões do ser é de uma linguagem cifrada, deformada pelas idealizações e identificações imaginárias erigidas como uma referência superior a ser imitada e obedecida.