De uma geração que acredita no teatro, Dionisio Neto, obstinado em escrever para esse meio ancestral, se impôs com suas peças entre os nossos mais inovadores dramaturgos. De singular insurreição da língua e da drama-turgia, seus textos necessitam encontrar um adequado discurso de encenação para trazer à luz as múltiplas camadas que uma leitura rápida pode ocultar. É clara uma “contaminação” recorrente por outros gêneros literários (narrativa, poesia) e disciplinas artísticas (cinema, artes plásticas, música, HQ), ou ainda pelos modos de comunicação utilizados por certas mídias (internet, telefonia móvel). Desse hibridismo incessantemente renovado, surge uma multiplicidade de formas, que sugere inúmeras proposições de pesquisa e de jogo aos seus intérpretes. Para tanto, explora a presença do insólito, do uso do kitsch como ironia, da interculturalidade como “armazém dos mundos”, isto é, como concorrência de fontes culturais diversas, e, sobretudo, de uma percepção da vida e da civilização em seu intrínseco absurdo. *Luís Cláudio Machado