Ela vive num velho bloco de apartamentos num bairro dos arredores da cidade. Sempre que sai, onde quer que vá, vira sempre à esquerda. Ele vive num velho bloco de apartamentos num bairro dos arredores da cidade. Sempre que sai, onde quer que vá, vira sempre à direita… Tão real como a própria vida, "Desencontros" é a história de duas personagens solitárias, com um certo vazio existencial, que, apesar de viverem separadas apenas por uma parede, não se conhecem e nunca se cruzam. A dupla estrutura narrativa e visual desta obra assenta, por um lado, num registo diarístico emocional e meteorológico, que se complementa com a presença de uma voz omnisciente, muito sensível; e, por outro, numa sucessão de ilustrações panorâmicas, em formato de vinheta, que, em determinadas passagens da narrativa, chegam a combinar cenas paralelas numa construção semelhante à do cinema ou da novela gráfica. Os leitores assistem ao encontro entre os dois protagonistas: um verdadeiro amor à primeira vista, mas infelizmente tão fugaz quanto efémero. A impossibilidade de se voltarem a encontrar, determinada por um acaso infeliz, a incerteza, a tristeza ou a resignação são as etapas seguintes que ambos percorrem numa peripécia vital, que se poderia resumir na expressão "tão longe mas tão perto". Tudo isto até um desenlace inesperado que o autor deixa em aberto, submetendo-o à interpretação do leitor. Através deste drama quotidiano sobre a busca da felicidade, Jimmy Liao tece também uma reflexão sobre a rotina, o individualismo e o isolamento das pessoas num grande centro urbano, com recurso a um tom poético e melancólico, próximo e introspetivo, a par de abundantes paralelismos literários. A nível artístico, as imagens realistas mesclam-se com poderosas metáforas visuais, numa linguagem simbólica plena de referências pictóricas e arquitetónicas, onde a marca da passagem do tempo, através da mudança das estações, está sempre presente.