A Desordem dos Fatores: Prosa precária e falsos poemas de Joel Pink, o primeiro romance de Aron Kremer, apresenta a pulsão e a paixão como elementos centrais do livro. Lançado pela Ornitorrinco Editora, a singular narrativa não linear do autor contém capítulos intercalados por poemas metafóricos aliados a uma prosa ágil. Em sua narrativa, Kremer encontrou um paralelo para os desafios com os quais nos defrontamos no dia-a-dia. Seu texto rememora a saga de Abraão que, ao chamado do seu Deus, sai de Ur, na Mesopotâmia, à procura da Terra Prometida, acossado pelo conflito entre suas duas paixões que condicionam seu comportamento errático na tentativa desesperadora de manter ambas, a mulher e a amante. O conflito acaba se tornando uma âncora no mar revolto que o cerca nas circunstâncias ardilosas da vida. Aquilo que no Velho Testamento aparece como um Chamado Divino, reflete a pulsão. A pulsão do inconsciente, a paixão tem um objeto. Segundo Kremer, as pulsões tanto, quanto as circunstâncias, conduzem nossa existência. Na trajetória de Abraão, as pulsões e paixões se misturam e determinam seu destino. Na história do personagem de A Desordem dos Fatores, também. A Desordem dos Fatores reflete as perguntas que norteiam os escritos do autor: O homem está sempre dividido entre suas pulsões, paixões e o dever? O nomadismo errático milenar do povo judeu é uma fatalidade ou seu destino? Em que medida, no mundo globalizado, o homem moderno repete a mesma trajetória?