Compare a atual geração de escritores ingleses com seus equivalentes franceses e americanos e verá que, hoje, boa parte da melhor literatura mundial — a mais inventiva, inteligente e refinada - está sendo produzida na Grã-Bretanha. Entre os maiores autores ingleses contemporâneos está, sem dúvida, William Boyd. Vale lembrar que pertencer a esse time significa estar credenciado a disputar espaço com escritores como Julian Barnes, Ian McEwan e Martin Amis, para citar apenas alguns. Boyd é um escritor das antigas - no que isso tem de melhor. Suas tramas têm início, meio e fim, seus personagens têm rosto e o cenário é tão real que quase se pode sentir o vento soprar. 'O destino de Nathalie X', conto que abre este livro, é um ótimo exemplo. Esse quase-filme é montado em forma de roteiro, com cortes literalmente cinematográficos (o primeiro é um fade up) que repetem no texto a estrutura da história original: um cineasta africano desconhecido recebe um prêmio na França e vai filmar em Hollywood. Descoberto por acaso numa lanchonete, Aurélien No entra na máquina de moer gente que são os grandes estúdios. Mr. No cai nas graças (e nas garras) de um influente crítico de cinema, de um agente espertinho, de um produtor em crise, de um roteirista talentoso e de uma estrela em ascensão que deseja ardentemente empurrar seu marido para trabalhar no filme. Todos julgam ter a melhor opinião sobre como adaptar O destino de Natalie X, um daqueles filmes "geniais" em que não acontece absolutamente nada. Cada conto se passa em uma parte do mundo: Nice, Laos, Cracóvia e até Salvador. Jamais pisou no Brasil, o quarto conto, é um curioso estudo sobre como um inglês vê o país através da música de Milton Nascimento, João Gilberto e Elis Regina.