Crer ou não crer é essa a distinção definida pela religião como absolutamente decisiva. Todas as outras diferenças sociais e antagonismos são insignificantes quando avaliados por esse critério O Novo Testamento diz: 'todos são iguais perante a Deus'. Tal igualdade vale, porém, somente para os que reconhecem esse Deus. Ao lado da supressão da barreiras entre as classe sociais e dos pertencimentos nacionais no interior da comunidade de fé, a religião cria uma nova distinção fundamental: entre os fieis da confissão certa e os da confissão errada. A religião sempre carreta consigo de forma mais ou menos latente a demonização do 'outro' religioso. A questão central, decisiva para a existência do gênero humano, e a seguinte: como vai ser possível um tipo de tolerância inter-religiosa onde o amor ao próximo não significa nenhuma inimizade mortal? Um tipo de tolerância tendo como meta não a verdade e sim a paz. Será que estamos vivendo uma metamorfose do monoteísmo, no sentido inverso, para um politeísmo do religioso, sob o signo do 'Deus de cada um'? Nas sociedades ocidentais que internalizaram a autonomia do indivíduo, a pessoa, isoladamente e com independência cada vez maior, criar para si pequenas narrativas de fé, cria o 'Deus de cada um', conforme a conveniência da sua própria vida Esse Deus próprio, pessoal, não é porém, o Deus Uno que dita a salvação, que decide os desígnios da história, autorização a intolerância e a violência.