Não é de hoje que a Igreja Católica perde seguidores para outras religiões. Na Idade Média, o movimento conhecido como catarismo surgiu na Europa, especialmente no Sul da França, e se tornou uma ameaça à hegemonia do cristianismo de Roma. Em 'Deus reconhecerá os seus', Maria Nazareth Alvim de Barros traça um perfil dos cátaros, considerados hereges pelos representantes do catolicismo, e mostra a luta entre eles e os católicos tradicionais pelo domínio da fé em território francês. Nos séculos XIe XII, o catarismo tomou forma de religião no Sul da França, tendo a conivência dos senhores feudais e exercendo influência social e política sobre a região. Os cátaros se viam como os verdadeiros sucessores dos apóstolos e divulgavam que o seu cristianismo era o autêntico, enquanto o de Roma não passava de uma manifestação do Diabo. Com uma face reformadora, o movimento pregava o retorno ao evangelismo primitivo, enfatizando a pobreza pessoal e a ausência de hierarquias clericais, em detrimentodo acúmulo de bens e de poder tão valorizado pela Igreja Católica na época. Seus seguidores também praticavam a castidade e ajudavam doentes e necessitados. Para combater o avanço dos cátaros, os líderes católicos pressionaram os nobres e a populaçãocom ameaças de excomunhão, interdição de cidades que abrigassem hereges, confisco de bens dos que os protegessem e condenação dos infiéis à morte, entre outras punições. Mas os hereges ostentavam uma religiosidade inatacável, sendo respeitados porsenhores feudais, pela opinião pública e até mesmo por praticantes do catolicismo. Mesmo o rei de Aragão, Pedro II, e o conde de Toulouse, Raimundo VI, eram tolerantes em relação ao catarismo, apesar de terem fortes laços com a Igreja de Roma. Com anomeação do papa Inocêncio III, a luta contra a heresia se intensificou. Após dez anos de tentativas inúteis de acabar com os cátaros, foi organizada a Cruzada Albigense, liderada espiritualmente por Arnaldo Amauri, abade de Cister.