Dialogando com a própria história é o registro de encontros de pessoas dispostas a falar e a ouvir, e um convite a entrar na conversa. Diria também que é uma oportunidade de reconhecimento na vida do interlocutor. Paulo Freire e Sérgio Guimarães abordam contextos políticos e culturais por eles vividos, tendo como ponto de partida a ditadura no Brasil. O nomadismo involuntário por que tiveram de passar, devido a questões políticas, se torna também uma possibilidade de “aprendizagem do mundo” e de encontro com o “outro”. O diálogo iniciado em Genebra apresenta elementos da história contemporânea com a significação de quem os vivenciou, exercício concreto de um conceito-chave de Paulo Freire, o de sujeito da história. Se reconhecer como sujeito da história é exercício político e pedagógico de extrema importância e é inquestionável o impacto dessa noção nos países que passaram por ditaduras. Eles têm como perspectiva a política participativa e a educação dialógica, comprometida com a emancipação dos marginalizados frente aos mecanismos de exclusão e controle. Não apenas a teorizam e a praticam, como lhe creditam destaque nas transformações das sociedades pós-regimes totalitários. Os dois sabem que a memória segue caminhos não lineares. A conversa entre eles parece não ter fim e instiga para além das páginas impressas. Poderíamos lê-los apenas por suas memórias, no entanto, a provocação de ser exporem assim é mais radical. Sutilmente eles nos convidam às nossas memórias, estimulando que outras histórias venham à tona. Assim os sujeitos anônimos podem se tornar sujeitos visíveis, o que faz com que os diálogos entre os autores, e com eles, continuem mundo afora. Marcos Reigota