Tudo é questão de linha, não há diferença considerável
entre a pintura, a música e a escrita. Essas atividades
distinguem-se por suas substâncias, seus códigos e suas
territorialidades respectivas, mas não pela linha abstrata que
traçam, que se desenvolve entre elas e que as transporta em
direção a um destino comum. Quando se consegue traçar a
linha, pode-se dizer “isto é filosofia”, e não porque a filosofia
seria uma disciplina superior, uma sabedoria popular, uma raiz
definitiva que conteria a verdade das outras, muito pelo
contrário: é porque a filosofia nasce ou é produzida do fora
por meio do pintor, do músico e do escritor, cada vez que a
linha melódica arrasta o som, que a pura linha traçada arrasta
a cor, que a linha escrita arrasta a voz articulada. Não
há necessidade alguma de filosofia: ela é inevitavelmente
produzida ali onde cada atividade conduz sua linha de desterritorialização.
É preciso sair da filosofia, a qualquer custo,
justamente para conseguir produzi-la do fora. Os filósofos
sempre foram outra coisa, eles nasceram de outra coisa.