DIAS EM QUE NÃO ME AMO

Os poemas reunidos em Dias em que não me amo, de Caleb Faria Alves, exploram as profundezas das relações familiares, as complexidades do amor e os desafios da existência humana. Dividido em sete partes, o livro conduz a uma jornada introspectiva e sensível que percorre memórias da infância, vivências amorosas, questões identitárias e a construção de sentidos. A partir de fragmentos cotidianos, o autor evoca temas universais como a solidão, o desejo e a busca pela autocompreensão.

Em “Silêncios ancestrais”, os poemas têm como ponto de partida a infância e resgatam memórias de uma criança solitária que, enquanto precisa lidar com ausências e tensões do ambiente doméstico, observa o mundo com curiosidade. Já em "Meu amor é esta concha eterna em meus ouvidos", o erotismo e a alegria se misturam, revelando o amor como elemento que transcende o espaço-tempo. O poeta dialoga também com o vazio existencial, como em "Eu fora de mim", e reflete sobre a escrita e a criação poética em "O presente é bote para poucas vidas". Outras seções, como "Outono", abordam a natureza cíclica da vida e o anseio por redenção.

Nascido no interior de São Paulo, Caleb Faria Alves cresceu cercado pela ilusão meritocrática de que a sobrevivência seria garantida pela obediência diligente a alguma figura importante, capaz de recompensar o trabalho duro. Embora desta época tenha sempre guardado o gosto pelo cheiro de mato e o respeito pelo trabalho na terra, sua mudança para a metrópole, ainda na adolescência, abriu-lhe outros horizontes. Contrariando o destino que lhe parecia reservado, teve acesso ao ensino superior e pôde cultivar seu interesse pela arte e pelas humanidades. Hoje professor do Departamento de Antropologia da UFRGS, transforma essa trajetória em sua linguagem poética, com o uso de simbolismos e imagens vívidas para expressar tanto o real quanto o imaginário. Segundo a crítica literária Léa Masina, é pela vertente da arte que o autor tenta responder questões da Filosofia e da Psicanálise, usando o poder da palavra e a força da poesia como elemento propulsor da releitura do mundo.

Com uma escrita marcada pelo lirismo e com grande habilidade em capturar os sentimentos, o livro de estreia do sociólogo e antropólogo Caleb Faria Alves nos convida a um passeio pela subjetividade humana. Como diante de um espelho, ao ler os poemas cada pessoa poderá encontrar reflexos de suas próprias incertezas, memórias e sonhos.

A edição conta com prefácio de Maria Arminda do Nascimento Arruda, professora titular do Departamento de Sociologia da Universidade de Sao Paulo, e vice-reitora da mesma Universidade. Nas palavras dela, "o livro percorre uma curva eliptica, cujos eixos lastreiam-se na memoria cristalizada, no entrelacamento de tempos e no vacuo existencial. Mais precisamente, a memoria e redefinida no movimento incessante e transformado, que confere ritmo a construcao poetica, produzindo novas configurações das sensacoes primevas".