29 de Outubro de 1947 - Trabalhei pouco hoje. Pela manhã fui com Sebastian à praia por onde perambulamos um pouco, e finalmente paramos para uma longa conversa com um grupo de pescadores. Dirigi a conversa para assuntos sobrenaturais, mas nada consegui; falamos principalmente sobre Boris Karloff, Bela Lugosi e seus filmes. Eles adoram filmes de horror, e falam disso com tanto prazer que nada pode fazê-los mudar de assunto. Não estou desapontado, pois sei que devo esperar muitos dias assim. Devo ser filosofo, como o pescador que ouvi há alguns dias atrás dizendo: O que posso fazer? Esses peixes velhacos não querem morder a isca . Este livro é a tradução do diário de campo de Ruy Coelho, escrito em inglês durante a pesquisa que levou a cabo em Honduras, de 26 de outubro de 1947 a 25 de julho de 1948, a fim de colher material para sua tese de doutorado. Um dos requisitos era que o pesquisador endereçasse constantemente ao orientador , Melville Herskovits, da Northwestern University, um registro das atividades quotidianas. Daí a formação de um texto como este. Antropólogo no campo de personalidade-e-cultura, orientado pelas técnicas projetivas de Rorschach, Ruy Coelho trabalhou na UNESCO, em Paris entre 1950 e 1952, voltando a seguir para uma longa e marcante carreira na universidade de São Paulo, ao lado de Antonio Candido, Décio de Almeida Prado, Paulo Emílio Salles Gomes e Lourival Gomes Machado, amigos de toda a vida. Dele diz Antonio Candido: Uma coletânea (que se impõe) de seus dispersos mostraria como nele o antropólogo e o sociólogo eram ao mesmo tempo um homem de saber universal, capaz de circular com toque próprio, servido por um admirável estilo, da literatura à lógica da sociologia ao cinema . Tarefa que, com o patrocínio da Sociedade Científica de Estudos da Arte - CESA, a Editora Perspectiva, a partir desse volume, se propõe a cumprir.