Nei Lopes define a expressão hinterlândia carioca como “a região afastada do centro metropolitano, tido como culturalmente mais importante”. No Rio, a expressão, antes mesmo do século XVI, já definia o conjunto das localidades “às margens dos trinta e três rios que deságuam na Baía de Guanabara” e “aquelas pertencentes às demais zonas rurais”. E dentro desse universo existe um vocabulário próprio e cheio de histórias pra contar. A ideia de subúrbio foi construída pelas classes dominantes como um espaço idealizado (com uma suposta “pureza” original do homem do povo e de sua sociabilidade) e como espaço de transgressão (um subúrbio que, de forma oposta ao primeiro, não é “puro”); cheio de contradições e sofrimentos impostos pelo jugo de uma exploração. Foram essas elites que, tomando a natureza como parâmetro, optaram pela separação da cidade em duas partes: uma, predominantemente litorânea, abrigando preferencialmente os ricos e remediados; outra, do outro lado da grande montanha, reservada aos cidadãos tidos como de segunda classe. Nos verbetes do Dicionário da Hinterlândia Carioca o subúrbio é o lugar privilegiado onde o urbano encontra o rural, onde o nacional abraça o global e onde o presente mais fortemente se nutre do passado. É nele que o fato cultural passa pelo filtro ou pelo amplificador da indústria para se espalhar pelo Brasil e ganhar o mundo. Um dicionário que é um verdadeiro mapa para se perder pela história dos subúrbios do Rio.