Em 1847, além de AS OBRAS DO AMOR, com o subtítulo Algumas considerações cristãs em forma de discursos, e do livro sobre Adler, que permaneceu inédito em vida do autor, Kierkegaard publicou ainda um volume intitulado DISCURSOS EDIFICANTES EM DIVERSOS ESPÍRITOS, o qual reúne três seções. A primeira traz um longo discurso “de ocasião”, que os leitores se habituaram a chamar: “Pureza de Coração”. A segunda seção, três discursos sobre “O que aprendemos dos lírios do campo e das aves do céu” (sendo o primeiro mais poético ou estético, o segundo ético, e o terceiro religioso). A terceira, por sua vez, reúne sete discursos sob o título “O Evangelho dos Sofrimentos”.
Nesse livro, estão presentes a segunda e a terceira seção.
Este volume diferencia-se de outros que já traduzimos para o leitor brasileiro pelo fato de reunir apenas “Discursos”. O estilo é diferente, tem mais oralidade, um tom dialógico que evita referências eruditas com notas de rodapé do autor (as que aparecem são dos tradutores) e se dirige a um/a leitor/a, melhor: a “um/a ouvinte” que sabe escutar, que medita, acolhe as citações e os argumentos e busca aplicar tudo o que aprende à sua própria vida. Não são, pois, escritos de teoria pura, “objetiva”, aqui não se trata de especulação filosófica, mas sim de reflexões de foco existencial (o que não quer dizer, é óbvio, autoajuda barata da indústria cultural). O autor, reverente, pedindo a bênção e a luz celestial, dirige-se “Àquele indivíduo” que com alegria e gratidão pode chamar de “Meu leitor”. Na intenção do autor, tais discursos não são escritos para arrebatar as multidões, mas não desistem de encontrar leitores/as que sejam bons/boas ouvintes.
Alvaro L. M. Valls