“Dissolução das controvérsias” (Vigrahavyavartani) é um pequeno texto em que Nagarjuna se confronta com uma série de críticas que sua doutrina da vacuidade, por ele exposta em outros escritos, tinha suscitado no interior do intenso debate filosófico indiano dos primeiros séculos da era cristã. A obra se apresenta como um diálogo indireto entre Nagarjuna e um adversário realista da escola hinduísta do Nyaya, que elenca uma série de ressalvas a respeito de defeitos epistemológicos, lógico- linguísticos e metafísicos supostamente presentes na filosofia nagarjuniana: qual seria, por exemplo, o fundamento “científico” de um ponto de vista que, ao negar a existência intrínseca de qualquer coisa, acaba negando também, os critérios de verdade que fundamentam imprescindivelmente as teorias epistemologicamente válidas? E como pode uma negação vazia negar algo? Ou, ainda, de que maneira a negação cabal nagarjuniana se esquivaria da acusação de ser um niilismo radical, isto é, um ponto de vista explicitamente desaprovado pelo Buda e cuidadosamente evitado por todas as escolas budistas abhidharma? Em réplica a críticas desse teor Nagarjuna, em poucas dezenas de versos de altíssima densidade filosófica, recorre a toda sua parafernália argumentativa, demostrando que a vacuidade não se configura como uma metafisica e, por ser um conceito vazio em si, não é afetado de forma alguma pelos defeitos apontados por seu oponente. É, ao contrário, a posição realista desse último que, submetida à análise lógica nagarjuniana, resultará absurda e insustentável.