O título, que nos leva a pensar em sons desarmônicos, reflete o universo dos personagens que compõem um romance moderno e sintonizado com o espírito do tempo em que estamos vivendo. Mas é quando a clareza de um título nos dá a impressão de que não é preciso nenhum subtexto para compreendê-lo, que inúmeras nuances e interpretações surgem para confundi-lo. É bem provável que Mário, o personagem principal de 'Dissonantes' desconfie do tempo como medidor de conhecimento entre as relações humanas. Certo é que hoje ele desconfia tanto das histórias de amor que parecem fadadas ao final feliz como dos sons harmoniosos de qualquer música capaz de nos fazer chorar. Por outro lado ele foi obrigado a confiar em seus temores. Afinal foram eles que o obrigaram a seguir em frente desde o princípio e que serviram de alerta face às armadilhas que ele encontrou pelo caminho. 'Dissonantes' é apenas um dos sinônimos que vem a sua cabeça quando ele escuta sons em desacordo. Se Mário precisasse responder à pergunta "quanto tempo é preciso para se conhecer uma pessoa?", ele provavelmente não conseguiria respondê-la. Seus pensamentos o levariam inevitavelmente a Viena, cidade onde viveu e conheceu Anna e Renato, Uli e Yumiko e tantas outras pessoas que fizeram parte da história de sua vida. O mundo, quando ele os conheceu, ainda tinha de um lado os países capitalistas e do outro os comunistas. O surpreendente triângulo amoroso vivido no período vienense, o retorno ao seu país de origem e as descobertas que fez sobre si mesmo e sobre o grande amor de sua vida fazem parte de um contexto que apenas aparentemente não tem conexão com os eventos que alteraram o mapa político e social de sua época. O amor, a arte e a morte são os temas desta história narrada de maneira simples e objetiva, nem por isso sem o rigor da reflexão intelectual, por vezes dolorosa, da realidade de um homem em busca do conhecimento de si mesmo.