Após poucos meses de meditação, passando a maior parte de sua vida enclausurado em seu quarto, quase sempre sóbrio, despendendo seu tempo em vícios, haja vista que se distraía e conversava mais consigo que com as pessoas, onde, com propriedade, se baseando nestas contemplações de seu estado de viver, poder-se-ia inferir que aquele jovem não possuiria rigor algum ante a metafísica dos conceitos, dos axiomas, das teses existenciais, e adiante; o que ocorreu, porém, foi justamente o oposto: recolhendo a desesperançosa intuição de menos de duas décadas, ele erigiu, em forma de rascunho fragmentado, um monumento conciso, minucioso, nevrálgico, múltiplo em sua completitude, e urdido pela alma: mais que um livro qualquer, é um livro para a vida. Não se assemelha a um livro simples, prazeroso e recomendável de ser lido: é antes mesmo, em caso de cautela à própria felicidade, um livro contraindicado. No entanto, para quem tem sede pelo conhecimento, buscando libertar-se de alguns dos paradigmas que nos ensinaram; sedento pela luz do esclarecimento e do acréscimo de alguma percepção, distanciando-se da ilusão e aproximando-se, um passo à frente, da verdade inconcebível; para quem procura, realmente, através da filosofia, pelo Saber, este livro é imprescindível. Eu vivi pouco e pouco aproveitei; mas, possivelmente, pensei mais que mil vidas.