O presente estudo visa mostrar que o dogmatismo é um sintoma da “doença da razão”. A doença da razão é a tendência natural compulsiva da razão de pretender ultrapassar as fronteiras da experiência possível e lograr a posse definitiva da verdade absoluta, a “coisa-em-si”, o desvelamento máximo. Essa doença (ânsia permanente de poder), algo que não se mostra, manifesta-se mediante alguns dos possíveis sintomas (algo que se mostra): a) atitude de se isolar e se fechar em total clausura; b) atitude de buscar refúgio em crenças e cosmovisões que propiciem estabilidade e segurança; c) comportamento de fugir de todo tipo de crítica e autocrítica. O dogmatismo é o caminho do encobrimento (do não ser, da não verdade, da falsidade, do disfarce, da enganação) que leva à ocultação da doença da razão e à sua dissimulação na medida em que se tenta fazer o sintoma passar por doença, ou seja, tratar o sintoma como se fosse doença. O dogmatismo como sintoma ajuda a razão transgressora a manter viva a sua doença. Os sintomas possuem uma característica comum: todos eles apresentam uma forte tendência ao encobrimento, à mascaragem (disfarçar com e por meio de “máscaras”). Os sintomas dogmatistas são estratégias engendradas pela própria razão humana para esconder (encobrir) a doença da razão. O dogmatismo não tem compromisso com a verdade no sentido grego de desvelamento. Por isso o dogmatismo, em quaisquer de suas formas de manifestação, induz sempre à diabolicidade e à violência. Em suma, o dogmatismo é a fuga da racionalidade: uma violentação da razão.