A autora propõe em seu livro “Domésticas: Cotidianos na Comensalidade”, em primeira pessoa, reflexões sobre o universo feminino através do espaço social da casa, mais especificamente da cozinha. Ao abordar a relação entre patroas e empregadas domésticas por intermédio do preparar, servir e apreciar a comida, o comportamento cotidiano é apresentado por via do cozinhar e tudo que se relaciona a esse evento diário. Convívio esse, conflituoso, apresentado nas relações socioeconômicas de gênero e culturais, desenrolando-se dentro do ambiente doméstico. Relações de poder, contrapoder e fronteiras hierárquicas, entre disputas e trocas de saberes, subversões e diversas maneiras de encarar a vida, aparecem de forma criativa durante a leitura.O longo trabalho de campo, realizado na cidade de Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, numa pesquisa interdisciplinar realizada durante o Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea na UFMT, traz agora em formato de livro um rico acervo de subjetividades expostas na escrita dessa obra. É apresentado um recorrido pela história da profissão, desde a senzala ao quartinho de empregada nos dias atuais. Com riqueza de detalhes, a autora faz ressurgir manuais antigos e blogs atuais sobre discursos reacionários e preconceituosos sobre essas mulheres, na sua maioria negras, pobres e sem “qualificação”. Contudo, o trabalho também mostra algo pouco conhecido, a luta e organização dessas mulheres pela valorização e emancipação da condição de excluídas. Por meio da Sociologia do Cotidiano, a pesquisadora dá voz às protagonistas, mulheres domésticas, por elas mesmas. É apresentado lugares, espaços e consumos relacionados a esses cotidianos, e o que comunicam essas ações na relação patroa x empregada e individualmente, desvendando fronteiras simbólicas entre esses grupos, mas principalmente desmitificando a posição dessas trabalhadoras como submissas.