Muito oportuna e indispensável é a reedição, agora aumentada de um impressionante relato atualizador, na forma de Prefácio, do mais importante estudo sobre a violência na Baixada Fluminense já escrito até hoje. O seu autor, José Cláudio Souza Alves, o havia defendido como tese de doutorado na USP no final dos anos 90. Publicada a primeira edição em 2003, o livro rapidamente transformou-se em referencia para os estudiosos. Mais que uma história da violência na Baixada Fluminense, como diz o seu subtítulo, o livro expressa pesquisa e militância, reflexão apaixonada e insights originais, além de narrar o terror cotidiano vivido por moradores e trabalhadores dos municípios da região. (...)Estendendo a análise até 2015, José Claudio examina uma importante inflexão ocorrida nas formas de violência na Baixada nesses dez anos, na passagem dos grupos de extermínio para matadores civis e no aparecimento das milícias, na reestruturação “produtiva” do tráfico em toda a Baixada em resposta às mudanças provocadas pela ocupação de muitas áreas pelas UPPs na Capital e nas intermitentes conexões entre empreendimentos ilegais “legalizados” em terrenos da União sob proteção de políticos e outros agentes públicos. O caso do São Bento, em Duque de Caixas, impressiona ao desvelar a ação das milícias mas também a resistência, ainda que com poder desigual, de militantes culturais do projeto Museu Vivo na região. A exposição de casos como o da Escola Guadalajara, dos confrontos na Mangueirinha, da compaixão de traficantes da Bacia, em Belford Roxo, em comparação com a desumanidade de bombeiros numa terrível situação-limite, a matança de Imbariê e os cemitérios clandestinos em terra e em rios, a trajetória de Silvio e de outros rapazes do tráfico – tudo isso escrito com objetividade e revolta, convocando-nos a reagir, a não permanecermos indiferentes e acomodados. Todo esse processo social, que tenho chamado de uma “acumulação social da violência”, é exposto caso a caso, linha a linha, no prefácio e no livro como um todo, demonstrando a que ponto chegamos. Que seja bem-vinda a reedição do livro de José Cláudio Souza Alves a todos que queiram compreender as antigas e as novas formas da violência fluminense e resistir a elas.”