Já em seu primeiro livro (No Giro dos Ventos, 1984) os poemas de Egberto Penido nos dizem este verso: “porque só resta a insistência desta sede”. Passadas mais de três décadas e sete livros de poesia, o oitavo, aqui presente, nos apresenta mais um desdobramento desta sede ininterrupta de compreensão, de expressão do espanto por se encontrar vivo, de exposição ao encanto dos mistérios da existência, de vasão ao transbordamento em medida precisa das imagens e sentimentos reveladores de tudo isso. Sede de diálogo, explícita nas dezenas de dedicatórias e menções a outros escritos e escritores; sede de se entregar “à esperança do agora” (“Caminhando”) mesmo diante do arrebatamento em que angústias e solidão se instalam – mas, apesar ou para além delas, as palavras podem se tornar “regalos da primavera”, como no poema dedicado a Joaquim Cardozo. Afinal lá se vão oitenta, para lá de oitenta primaveras; o que pressupõe outonos, invernos, verões, com todas as suas variações e insinuantes intercâmbios. Não nos enganemos pela cifra alta, nem pela última e sugestiva palavra do livro, repousar. Aos oitenta, a vibração dos versos é de “peixe vivo” em movimento e procura. Não à toa, “Conclusão” surge mais ou menos no meio: não se trata de conclusão final, é conclusão ativa, da relação com o cotidiano, com “o delírio do dia” (“Bruma”), com as noites e manhãs que virão. A sede deste peixe pratica o ato de “tecer panoramas” (“Pano de fundo”). E se o postscriptum de “Alma minha” nos revela que é ela, alma, quem escreve as poesias do poeta, os versos reiteram a reverberação dessa voz com sua idade sempre juvenil e inquieta para lá de muito mais que oito décadas. Eduardo Brito da Silveira