A história das ligações que a psicanálise manteve com outros discursos que tentou interpretar e pelos quais foi interpretada - sobretudo o marxismo - constitui um repertório de perigosos mal-entendidos. Este livro busca uma abordagem original da questão, baseada na compreensão do capitalismo como uma economia de gozo e na articulação do conceito lacaniano plus de jouir (mais-de-gozar) com a noção de mais-valia dos textos marxistas. Paulo Becker nos propõe o pensar como um ato inaugural, como práxis que se opõe à metafísica do ser e à imediaticidade do mercado. Um pensar materialista em que Marx, Freud e Lacan são enlaçados em um ponto de reflexão que redefine fronteiras que até há pouco sequer se reconheciam. Neste livro, são prospectadas relações profundas entre a economia do capital e a psicanálise. Um viés que não tem nada a ver com os ideais humanistas que pregam, no campo da cultura, uma redenção revolucionária sem política. Partindo do lugar instaurado por Lacan, abre-se um percurso no qual se pode formular, conforme o título, uma economia de gozo. Que desdobramentos políticos podem se esboçar a partir daí? Lembremos que Freud, Marx e Lacan são pensadores que fazem do sofrimento das gentes um enigma diante do qual uma prática se constrói. Uma ação que, por ser de intervenção no mundo, é política. Segundo Becker, a psicanálise é uma ética - supõe uma ação contra a miséria neurótica, como dizia Freud. Essa ação é o que presentifica a psicanálise no mundo, enquanto o mundo se sustenta no laço social chamado capital. Toda a argumentação, aqui, se constrói como uma espécie de comentário (no sentido medieval do termo, quando o saber se faz como comentário) que desdobra o texto original e dá ao leitor ferramentas que lhe permitem retroagir sobre o primeiro, ampliando-o.