O leitor que adentrar no Edifício Ouroboros terá o privilégio de espiar as fantasias que se escondem pelos cantos em que as câmeras de vigilância ainda não alcançam e conhecer a intimidade de alguns de seus moradores e funcionários. Circunscritos ao mesmo intervalo de tempo, estes contos de condomínio, criados pelo escritor e psicanalista Renato Tardivo, abordam as relações perversas de um prédio residencial de classe média para além de seus espaços comuns; portaria, sala de ginástica, churrasqueira, garagem, hall de entrada, elevador e outras áreas, mas também alguns de seus apartamentos e suas vidas cotidianas, como duas moradoras que negociam o aluguel de uma vaga de garagem, o porteiro que assiste, pelos monitores do circuito interno, acontecimentos alheios às suas obrigações, as conversas das diaristas ao fim do expediente, a moradora e seu irritante cachorro, um menino que flagra dois adolescentes trocando carícias sexuais e é discriminado pela cor da sua pele, e assim, personagens e eventos tangenciais em uma narrativa podem assumir protagonismo em outra. À medida que o livro avança, como no processo de revelação fotográfica, algo vai saindo da sombra – o avesso das fachadas que encobrem os papéis sociais. Esse mergulho no invisível do edifício e das personagens aproxima o leitor da intrigante atmosfera de um mistério que perpassa diversos contos. O desfecho, inesperadamente, elucida a trama e revela o quanto os destinos de todos os personagens estão mais intrincados do que se imaginava.