Na disputa pelo poder em Tebas, Etéocles e Polinices, filhos de Édipo, expulsam da cidade o pai sob a alegação de que por seus antigos crimes de parricídio e incesto o velho rei, já deposto há muito tempo, poderia ser causa de contaminação e desgraça para o país. Cego, o ancião banido perambula sob os cuidados de sua filha Antígona, até chegar a um local próximo de Atenas, onde o errante andarilho, ao saber que se trata de um bosque dedicado às terríveis deusas Erínies, identifica-o como o lugar em que, de acordo com antigo oráculo, encontraria finalmente paz e repouso. No entanto, os habitantes dessa região chamada Colono, ao conhecerem a identidade do estranho visitante, querem que ele abandone o lugar imediatamente, temerosos de que sua presença – considerada nefasta – atraísse desgraças para a terra e seu povo. O ancião aparentemente desvalido surpreende então ao pedir a presença do rei local para lhe propor uma troca que, se aceita, beneficiaria a todos os habitantes da região de modo permanente e duradouro. Atendendo ao chamado, o rei de Atenas Teseu de imediato reconhece Édipo e o acolhe como hóspede do país. Esse acolhimento, porém, desencadeia um inextricável conflito de interesses entre os representantes de Tebas e de Atenas, renova o doloroso conflito entre Édipo e seus filhos varões, e revela finalmente a dimensão heróica do decrépito rei cego.
Sob a perspectiva e no contexto da democracia ateniense do século V a.C., este drama expõe e documenta tanto os antigos valores ainda atuantes da aristocracia tradicional quanto as misteriosas crenças religiosas do próprio autor Sófocles. Com esta edição, completa-se a publicação das sete tragédias supérstites de Sófocles, na tradução poética, metódica e sistemática de Jaa Torrano. Todos os volumes contêm, além do glossário mitológico, ensaios de interpretação do tradutor e de Beatriz de Paoli, tão agudos quanto esclarecedores. As editoras Ateliê e Mnema orgulham-se desta realização que oferece ao leitor um verdadeiro tesouro da literatura universal.