A favela e a escola pública estão no coração dos dilemas societários brasileiros e ganhou a sua expressão mais acabada e dramática no Rio de todos os Brasis, como bem formulou Carlos Lessa. São duas instituições que produzem efeitos sociologicamente perversos aos esperados. A favela, por estar em proximidade ou acessibilidade às partes mais elitizadas onde se concentram os recursos mais escassos, deveria funcionar como mecanismo integrativo e de mobilidade social para os seus habitantes. Entretanto, a sociologia vem evidenciando ao longo dos tempos que na relação entre a favela e a cidade funcionam mecanismos mais ou menos sutis e outros muitos explícitos de subalternização, inferiorização e mesmo exclusão dos favelados em relação ao mercado, à sociedade e à política. O que designamos como modelo carioca de segregação, por combinar proximidade territorial e distância social, vem funcionando de fato pelo seu avesso, ao reproduzir e naturalizar um padrão marginal e marginalizador de integração social. Por outro lado, a universalização da escola pública ocorrida nos últimos 40 anos, que, no caso da cidade do Rio de Janeiro, concretizou-se em uma distribuição territorial igualitária da oferta, deveria promover o ideário republicano da democracia de oportunidades. Porém, desde a seminal pesquisa realizada, em 2008, em parceria com Creso Franco e Fátima Alvez inúmeros estudos têm evidenciado as desigualdades de chances reais de escolarização de crianças e jovens em função da localização da escola naquele espaço social. Os textos reunidos na presente coletânea constituem-se relevante contribuição para o melhor conhecimento de partes fundamentais das engrenagens da máquina brasileira de reprodução das desigualdades sociais em nossas escolas. A sua circulação e difusão certamente incentivarão o debate sobre a consideração mais ampla do tema da justiça social nos campos das políticas urbanas e nas políticas da educação