“Os moradores narraram que Dona Dionéia era uma benzedeira que cortava Erisipela, tratava das malinesas provocadas pelos seres espirituais habitantes das matas e ensinava remédios feitos com ervas medicinais. Descreviam também que embora Dona Dionéia tivesse mudado de religião, ela permanecia atendendo as pessoas da comunidade, mas desta vez realizando orações e não mais benzeduras. Além disso, observavam que ela ensinava remédios envolvendo plantas e alguns fármacos industrializados; realizava sermões extraídos das leituras que fazia da bíblia, durante o atendimento, e quase sempre os convidava para uma visita à sua igreja, a Assembleia de Deus”. Parto de um extrato da obra de Marcio Barradas Sousa e Maria Betânia B. Albuquerque para me expressar sobre essa magnífica contribuição aos estudos na área da educação. A obra nos permite diferentes reflexões a respeito do que podemos ensinar e do que podemos aprender em qualquer ambiente em que nos relacionemos como seres da natureza e como seres humanos que vivem em sociedade. Os autores tomam como recurso de pesquisa científica e como proposta de roteiro literário as experiências intervencionistas de Dona Dionéia para nos mostrar de forma cuidadosa como os saberes não escolares são compartilhados e de como passam a significar na vida das pessoas, estruturando conhecimentos necessários à vida dos sujeitos em suas múltiplas dimensões. A obra nos convida também a fazer um trânsito entre o tradicional e o moderno no campo da educação e de como os saberes vão se ressignificando no tempo a partir das reconfigurações sociais, que atingem a todos nós, assim como atingem a todas as formas de manifestações e apreensões do conhecimento. A leitura da obra é um convite à tomada de contato com a leveza acadêmica, que está para além da rigidez necessária dos métodos, mas que nos mostra que os saberes estão em todos os lugares e em todas as pessoas, basta que queiramos acessá-los. Prof. Dr. Carlos Nazareno Ferreira Borges Universidade Federal do Pará – UFPA