De caráter marcadamente épico, os versos destas “Elegias do país do Sanhauá” misturam, numa engenhosa construção linguística, falas de um passado medieval-clássico-helênico a elementos da cultura pop contemporânea. Joedson Adriano, que surge como voz poderosa no panorama da poesia hodierna, construiu uma verdadeira epopeia da juventude proletária das periferias do Brasil. Reflexo de uma geração de jovens homens que, há vinte anos, num mesmo Nordeste sem perspectiva, não tinha outra alternativa que a migração ao Sul, aonde ia barganhar barato a força de trabalho. Estes jovens agora se fixam nas franjas das capitais e, de sua virilidade, surge um movimento cultural que começa a tomar forma, reação ao descrédito moral que a sociedade brasileira atravessa. Um povo sofrido, abandonado por um Estado corrupto e patriarcalista, favorecedor das velhas oligarquias, elas também em franco desmonte, como no clássico Laranja Mecânica os jovens desta periferia devolvem à sociedade o que dela obtiveram. Num composto de sexualidade reprimida/liberada, de desejo/frustração de consumo num universo capitalista que o alija, a voz deste homem íntegro, guerreiro anônimo, o pedreiro contemporâneo, se junta em sua guilda repaginada à de seus companheiros e aprendizes. A independência do Brasil e das colônias latinoamericanas foi um processo conduzido outrora por obreiros de idêntica natureza. A única possibilidade de libertação no atual contexto de subjugação pela qual o Brasil, conduzido por uma elite torpe e com o beneplácito de uma classe média inculta e dopada, pode bem residir neste homem novo, nietzschiano, que surge do caos social — o narrador desta Eneida periférica. Só que a nossa epopeia tem o caráter elegíaco, do sonho que já nasce morto.