No Brasil, durante os conturbados anos de 1970, várias formas de violência articularam-se sob a égide da repressão ao ascenso de novos protagonistas sociais. Potenciando o poder instrumental da força bruta, sob a máscara de uma legalidade em que violência e poder aparentemente se opõem, o arbítrio do Estado destrói as liberdades cidadãs e desfaz o espaço público de seu exercício, o qual se manifesta tão somente no consenso de seu silêncio - temas que adquiriram especial relevo no pós-Primeira Guerra Mundial, com um foco particular nos cenários russo e alemão. Sua repercussão no debate filosófico e político é visível em alguns dos principais pensadores e críticos que captaram e estudaram as sinistras utopias ideológicas aí contidas, dentre os quais Hannah Arendt se projeta em primeiro plano por sua incomparável argúcia teórica e marcante produção ensaística. Qualquer pesquisa dessa problemática em nossos dias não pode deixar de ter em conta o que a autora de Entre o Passado e o Futuro e Origens do Totalitarismo viu, entreviu e reviu. É o que faz Silvia Gombi neste Em Busca de um Lugar no Mundo. Tratando dos limites dos atos políticos de imposição discricionária e de suas relações com o poder, sua reflexão procura avaliar o significado da maré montante da violência enquanto perda pelo ser humano de um ´lugar no mundo´, ao mesmo tempo que intenta discernir as condições que permitam reconquistá-lo, como forma de contenção sociopolítica dessa violência e do resgate da condição humana nos seus espaços cultural e social. A leitura analítica da obra arendtiana, bem como de livros, artigos e teses, publicados no Brasil e no exterior sobre o tema, fundamentam a visão original de Silvia Gombi ao vincular neste livro a exacerbação da violência, resultante de uma diminuição do poder, à formação de um novo ethos para o homem, hoje. J.G.