Eduardo Bonine, no seu livro Embranquecimento do candomblé? Entre lugares raciais, sociais e culturais do candomblé em São Paulo, convida seus futuros leitores (as) a renovarem seus olhares sobre o terreiro de candomblé Queto, Axé Ilê Obá, um dos mais antigos da cidade de São Paulo, localizado na região do Jabaquara, zona sul da cidade. Sua pesquisa joga luz nova sobre a ¿Força da Casa do Rei¿, ao abandonar trilhas analíticas surradas, retóricas tradicionais e abrir-se à escuta das narrativas, das memórias elaboradas e reelaboradas internamente pelos filhos e filhas de santo. Essa escuta vivida pelo autor, levou-o a relativizar sua primeira motivação de pesquisa, a questão acerca do "embranquecimento do candomblé", - uma preocupação, não dos de dentro, mas dos de fora - e constatar a autonomia construída no dia a dia do terreiro num esforço conjunto de Pai Caio, Mãe Sylvia e Mãe Paula, e seus filhos e filhas de santo. Nesse cuidadoso e delicado processo de iluminar as práticas religiosas do Axé Ilê Obá, ter recorrido a uma perspectiva decolonial de análise foi fundamental para oferecer uma diferente percepção da vida de três gerações, vida que flui com seus limites e suas possibilidades. Ao acolher o convite do autor para "enxergarmos as raízes do baobá e não contentarmos apenas com que os olhos veem...", somos levados a descobrir a complexidade da vida tecida no dia a dia do terreiro e a ter acesso privilegiado a história do Axé Ilê Obá.Obra de boa ventura, generosa, criativa e merecedora de leitura cuidadosa.
Prof. Dr Ênio José da Costa Brito