O que quer a crítica queer? A cada conquista das mulheres, das travestis, das transexuais, dos homossexuais, das lésbicas, das pessoas intersexo e de outros dissidentes, alguma coisa de radicalidade tem sido trancada novamente nos armários obscuros do passado. Qual preço estamos pagando pelas pequenas conquistas que estamos conseguindo realizar? Que futuro estamos construindo com as chagas do nosso passado? Quem ainda está conosco? Quem ficou pelo caminho? Mesmo comemorando cada conquista de direitos decorrentes das lutas dos dissidentes de gênero e de sexualidade, há em muitos uma insatisfação que precisa ser levada a sério. Há alguma coisa que podemos chamar de um sentido de liberdade que pulsa para além dos casamentos igualitários, das paradas do orgulho LGBTI+, dos filmes sobre amor homossexual, dos nomes civis das mulheres travestis, da despatologização de nossa existência. A crítica queer não nega os avanços alcançados, a conquista de espaços de realização ou de afirmação de si, a nossa liberação paulatina das amarras que nos prendem. O que a crítica queer quer com essas suas insatisfações em relação ao direito é manter acesa a chama da liberdade, a contínua busca pelas insuficiências e pelos esquecimentos, a inquietante tarefa crítica que nunca cessa e nada deixa passar.