A discussão do conceito de modelo é uma das mais resilientes na história da humana. De Platão, na Grécia Clássica (pelo menos) à ciência contemporânea, “modelo” não apenas é central como conceito, como assumiu importância cada vez maior com o desenvolvimento da matemática. Nesse período, entretanto, o próprio conceito sofreu inversões e mudanças em sua concepção. Na visão platonista, o modelo é a ideia em si, que existe separada da realidade empírica, em um mundo sem tempo, perfeito, composto de ideias, das quais as coisas do mundo empírico são cópias imperfeitas. Mais adiante, o modelo passou a ser um objeto ou indivíduo no mundo empírico, mais “perfeito” que os demais—o qual, evidentemente, os demais deveriam copiar. Na ciência, o modelo é a construção humana em algum grau formalizada (no sentido de matematizada) que reproduz um mecanismo ou processo que se repete no mundo empírico e que, assim, permite predictibilidade. Desse ponto de vista, modelo aproxima-se de um universal de Aristóteles. Neste livro do Prof. Dalmo de Souza Amorim, Ensaio sobre Modelos, como em um caleidoscópio, inúmeros aspectos da ideia de modelos são abordados. Constata-se que o mundo contemporâneo—da política à arte, da tecnologia à moralidade, da religião às fábulas—, qual colcha de retalhos, está permeado pelo conceito de modelo. De outro ângulo, com a quantidade de referências a modelos ou representações da realidade, a domínio do significado de modelo é indispensável para a compreensão do conhecimento contemporâneo, inclusive para evitar o autoritarismo da imposição de modelos a priori.