SINOPSE Celebrado por O Homem Sem Qualidades, uma das mais marcantes e importantes criações literárias do século XX, Robert Musil tem produções igualmente notáveis, mas pouco conhecidas do público brasileiro, como as duas novelas que compõe Uniões (Perspectiva, 2018), da lavra de um Musil mais maduro, e agora esta saborosa reunião de ensaios do Musil mais jovem – de textos produzidos entre 1900 e 1919 –, com resenhas críticas, autocríticas e pequenas narrativas em já que já se notam o grande talento do autor. São ensaios traduzidos do alemão pela professora e pesquisadora Kathrin Rosenfield, que também assina os textos complementares e as notas. QUARTA-CAPA Robert Musil, um dos mais notáveis escritores do século XX, autor do monumental O Homem Sem Qualidades, acalentou sem concluir o projeto de lançar um livro de ensaios. Aqui, a professora e pesquisadora Kathrin Rosenfield traz uma seleção vigorosa deles e da "pequena prosa" do autor. Encontraremos um jovem Musil notável pela sinceridade com que elabora os problemas objetivos do mundo a partir da própria experiência íntima. Em impiedosa autoanálise, passa em revista os apegos e resistências que compartilhava com seus contemporâneos; não se põe acima nem à parte deles ao criticar os elãs pseudorreligiosos reproduzidos nos entusiasmos estéticos, nas convicções e nos dogmas políticos inquestionáveis. Ele explicita o conflito da espiritualidade mundana do fim do século XIX com os desafios ainda mal esboçados da modernidade científica e tecnológica – e a resistência inconsciente, quase recalcada, às inevitáveis consequências dessa mesma modernidade. Os textos das duas primeiras décadas reunidas neste volume mostram como Musil se livra de seus apegos idiossincráticos por meio do escrutínio dos fenômenos que observa e pela ficcionalização da própria experiência. Rosenfield acrescenta ainda todo um aparato informativo, visando fornecer ao leitor melhor compreensão de uma época e de um autor cujas sombras e luz se projetam ainda hoje sobre nós com toda a força. DA CAPA Imagem da capa: retrato de Robert Musil. COLEÇÃO TEXTOS A coleção Textos é dedicada a grandes textos de grandes autores, brasileiros e internacionais, nos campos da literatura, dramaturgia, crítica e filosofia. Seu propósito é levar um painel da vida e obra desses escritores e pensadores, sua obra propriamente dita e ensaios críticos que demonstrem sua vitalidade e importância para o leitor brasileiro. TRECHO Também a prosa científica tem um lado estético. Ele não pode ser excluído da formação dos conceitos. É característica a distensão entre forma e conteúdo. Para o mesmo conteúdo podemos encontrar as formas mais diversas. Elas "acrescentam algo", mas não mudam o essencial. Precisamente nisso repousa a adequação da linguagem para a comunicação científica. No caso do ensaio, vemos claramente uma diferença segundo o objeto – por assim dizer, segundo a sua distância do tratamento científico. Se tomarmos, por exemplo, Maeterlinck ou algum místico intuitivo (cuja prosa pertence ao ensaio, não ao tratado científico), passamos da clareza para a penumbra das palavras. As coisas que devem ser ditas aqui não se deixam dizer diretamente. O acervo disponível de relações intencionais não basta. Tampouco em combinações, como nas definições dos cientistas. Isso surge quando entramos no domínio religioso, estético, ético e do indivíduo. No lugar da descrição entra a perífrase. A circunlocução, que é um rodeio. O que se destaca em relevo é uma imagem um tanto borrada de algo velado. Também nos dégradés mais finos nas tonalidades claras. Velamentos são possíveis dos mais diversos modos. Podemos estabelecer, com a nitidez que aqui em geral é possível, quando X quer dizer mais ou menos a mesma coisa que Y. Nisso, ele pode se servir de outros pensamentos e de outros meios da prosa.