O livro apresenta uma coletânea de artigos de pesquisadores brasileiros e japoneses do campo da Antropologia e da Psicologia que exploram as mediações ecológicas e semióticas que permeiam a utilização de substâncias enteogênicas em diferentes contextos culturais. Cada um dos artigos traz importantes re?exões sobre as relações de condicionamento mútuo entre o animal humano, a natureza e as diversas formas de produção de artefatos simbólicos. Adota-se neste conjunto de trabalhos a nomenclatura “enteógenos” ou substâncias enteogênicas, com o intuito de, em alguma medida, ressaltar a interdependência entre o processo de objeti?cação da substância e as realidades sociais, linguísticas, históricas e religiosas que a cercam. Tal nomenclatura parece ser, entre as classi?cações disponíveis, aquela que poderia de modo mais satisfatório abranger modos de existência não fundamentados pela separação estrita entre natureza e cultura, pois pressupõe essa indissociabilidade entre contexto cultural e substância. Os estudos aqui presentes articulam perspectivas ecológicas e semióticas, pois abordam a construção de artefatos simbólicos que emergem da experiência enteógena, bem como o modo pelo qual tais artefatos simbólicos produzem certas transformações das relações semióticas entre os sujeitos humanos, e consequentemente, produzindo impactos em seus modos de constituir sentido e autonarração. Essas transformações operadas nas relações semióticas, por sua vez, também impactam nas relações ecológicas, já que esse sujeito que emerge da experiência enteógena, articula em níveis individuais e coletivos novas narrativas que determinam os modos especí?cos de relação consigo mesmo, com outros sujeitos humanos, com as plantas, com os animais, en?m, com o cosmos. Estes modos de identi?cação do "mesmo" e do "outro", presentes em cada contexto cultural, bem como os diversos modos de conceber os domínios da "natureza" e da "cultura", são questões que possuem amplas consequências para cada um dos trabalhos presentes no livro. Pois analisar contextos culturais do encontro entre humanos e as “substâncias”, implica investigar a maneira como, tanto o "humano" quanto a "substância", são socialmente objetivados.